MESTRE DAVID RIBEIRO TELLES – CAVALEIRO TAUROMÁQUICO


David Manuel Godinho Ribeiro Telles

(Almeirim, 11 de novembro de 1927 – Coruche, 20 de junho de 2016)

 

Filho de Manuel Ribeiro Telles e Maria Teresa Luizello Godinho, David Ribeiro Telles nasceu a 11 de novembro de 1927, em Almeirim, na casa dos avós maternos.

Foi batizado na Igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Coruche, começando aqui uma ligação profunda à padroeira do vale do Sorraia, de cuja Irmandade viria mais tarde a ser Juiz.

Frequentou a Escola Primária em Coruche, onde teve dois professores: Maria de Lurdes e João Grade Ribeiro.

Com 11 anos rumou à capital de distrito para frequentar a então Escola Agrícola de Santarém, no curso de Regente Agrícola.

A adolescência foi passada entre Santarém e Coruche, entre a escola e os toiros, entre os livros e os cavalos.

Tinha apenas 12 anos quando toureou pela primeira vez, em Santarém, na Escola Agrícola, onde era muitas vezes solicitado para tourear em espetáculos de beneficência ou imbuídos no espírito académico.

Com 15 anos fez a primeira aparição num espetáculo taurino em Coruche, por uma causa solidária.

O percurso académico levou David Ribeiro Telles até Coimbra, para frequentar a Escola Superior de Agronomia.

Em 1953 toureou pela primeira vez em Lisboa, a convite da Escola Equestre de Viana d’Áustria, que estava em digressão mundial, passando por Portugal.

Casa com Maria Isabel Van Zeller em 1954 e um ano depois começa a viver na Herdade da Torrinha, perto do Biscainho, em Coruche.

De um casamento feliz nasce uma família numerosa e harmoniosa, nada mais nada menos que doze filhos.

As grandes referências de David Ribeiro Telles na tauromaquia foram: António Luiz Lopes e Simão da Veiga; registando-se também as ajudas que teve de Fernando Andrade, João Núncio e Dr. Salgueiro; e a relação de amizade com o companheiro de sempre Alberto Luiz Lopes.

Ainda antes da alternativa David Ribeiro Telles passa pela experiência de ser forcado. Paulo Ribeiro Telles, seu primo e reconhecido picador e campino, foi durante anos elemento do Grupo de Forcados Amadores de Santarém. David juntou-se-lhes algumas vezes e com eles pegou um toiro na Figueira da Foz.

Mas o sonho de ser cavaleiro tauromáquico sempre acompanhou David Ribeiro Telles, mesmo sem a bênção do pai para ser profissional. Foi o Avô materno que deu ao neto ganas para seguir em frente com o sonho.

David Ribeiro Telles foi amador até à alternativa, uma vez que não fez prova de praticante, e apresentou-se ao público em Coruche em 1948, na praça de toiros da margem esquerda do Sorraia, numa das três corridas que aí se realizaram por ocasião das Festas em honra de Nossa Senhora do Castelo.

A primeira vez que pisa a arena da atual praça de toiros de Coruche é em 1956, ainda como amador.

Participa de forma entusiasta na construção da praça coruchense, mas não atua na inauguração por culpa de um trágico episódio familiar.

Tirou a alternativa em 18 de maio de 1958 numa remarcação, pois na data original (9 de maio de 1958) choveu muito e a corrida foi cancelada. Foi no Campo Pequeno, em Lisboa, e teve como padrinho o seu amigo Alberto Luís Lopes. Do cartel faziam ainda parte o mítico sevilhano Curro Romero e Abelada Zergada, o toiro, da ganadaria Coimbra, era o n.º 13 e chamava-se Criminoso.





A 17 de agosto de 1958 estreia-se como profissional na Monumental do Sorraia.

A 15 de agosto de 1959, dia da Senhora do Castelo em Coruche, estreia-se em Madrid, na Monumental de Las Ventas.

Apadrinha a alternativa dos filhos João e António, na Celestino Graça, em Santarém, e no Campo Pequeno, em Lisboa, respetivamente.




Alternativa de António Ribeiro Telles, no Campo Pequeno, em 21/07/1983. Padrinho David Ribeiro Telles; Testemunha João Ribeiro Telles; Toiros David Ribeiro Telles. Cavalos: Ribatejo, Palhaço, Altivo, Trevo. Forcados Amadores de Santarém e Vila Franca de Xira. Foi a primeira vez que atuou no Campo Pequeno. Cavalos: Cortesias: Ribatejo; Primeiro toiro para ferros compridos: Ribatejo; Primeiro toiro para ferros curtos: Altivo; Segundo toiro para ferros compridos: Palhaço; Segundo toiro para ferros curtos: Trevo.


Dá alternativa ao neto Manuel e está presente na alternativa do neto João. Entra nas cortesias a cavalo, mas exige que seja João Ribeiro Telles a conceder alternativa a João Júnior.

De norte a sul de Portugal, Madeira e Açores, várias foram as tardes de glória, em que mostrou a sua arte e elevou bem alto o nome da sua terra, Coruche.

Como grande artista, o mundo chamou por ele. Mestre David Ribeiro Telles pisou as principais arenas e triunfou nas maiores feiras de Espanha: Madrid, Sevilha, Zafra, Jaen, Córdoba, Barcelona, Jerez de la Frontera, Málaga, entre outras.

Em França andou por Arle, Nime, Axe, Mont Marcin e Mêjane.

Noutros continentes, toureou em Angola, Moçambique e Macau.

As suas raízes familiares são determinantes, não só para o seu percurso enquanto cavaleiro tauromáquico mas também como ganadero e criador de cavalos.

No final do século XIX Joaquim Ribeiro Telles funda a ganadaria homónima, havendo ainda registo destes toiros em 1930. Por falecimento deste, a ganadaria passa para seus filhos, sendo administrada pelo mais novo – Manuel (pai de David Ribeiro Telles).

Esta ganadaria passaria a denominar-se David Ribeiro Telles & Irmão (Joaquim), mantendo o ferro, mas com nova divisa – encarnada e preta –, quando os mesmos a herdam por morte de seu pai Manuel.

Anos mais tarde passa para a atual designação – David Ribeiro Telles –, mantendo sempre o mesmo ferro.

Apesar da antiguidade estar marcada para o ano de 1929, já no século XIX Joaquim, o fundador da ganadaria, criava toiros de lide, embora sem o apuramento incutido à ganadaria por David Ribeiro Telles a partir do final da década de 40 do século XX. O que vem a ser confirmado, por exemplo, no estrondoso êxito obtido, em 6 de outubro de 1968, em Madrid, onde todos os novilhos são ovacionados no arraste e o maioral sai em ombros.

A ganadaria Vale do Sorraia tem ferro DG, de David Godinho, avô materno de David Ribeiro Telles. Esta foi fundada em 1947, mas só aparece com a designação Vale do Sorraia a partir de 1970.

Também na criação de cavalos a coudelaria Ribeiro Telles, iniciada por Joaquim Ribeiro Telles, resulta da dinastia de cavaleiros prolongada pelas gerações seguintes até à atualidade. Mestre David Ribeiro Telles empenhou-se de alma e coração à coudelaria da família, com destino sobretudo para o toureio equestre. Ao longo do tempo foram aparecendo cavalos de grande prestígio no meio tauromáquico, como os casos do Olho Pequeno, do Veneno, do Sorraia, do Minuto, do Adorno, do Sábio, do Chibanga, do Chinelo e da égua Ervilha.

Mestre David Ribeiro Telles foi presidente do Sindicato Nacional dos Toureiros Portugueses e deu a alternativa a 17 cavaleiros.

Em 1991, juntamente com António Badajoz, foi condecorado com a medalha de Mérito Cultural.

Em 1999 foi condecorado pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, como Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.


Em Coruche, já neste século, a Câmara Municipal foi distinguindo Mestre David Ribeiro Telles com diversas homenagens e reconhecimentos públicos:

  • Na sequência da requalificação urbana do largo do Rossio, foi criado um mural de homenagem aos toureiros locais junto à praça de toiros no qual está inscrito o seu nome, tendo sido assinalado o devido reconhecimento público no dia 17 de agosto de 2006;

  • Em 24 de outubro de 2008 foi-lhe prestada homenagem pública com a atribuição de um dos Prémios do Foral, que constituem um ato de reconhecimento às pessoas que tenham prestado ao Município de Coruche serviços considerados relevantes e excecionais, designadamente de que resultem maior renome para o concelho, maior benefício coletivo ou honra especial;



  • O Município de Coruche atribuiu ainda o Prémio de Mérito a David Ribeiro Telles (a título póstumo), a distinção mais elevada do município, num momento solene realizado no dia 17 de agosto de 2017, durante a Corrida de Toiros em sua homenagem, por ocasião das Festas em honra de Nossa Senhora do Castelo, com a apresentação de um relevo do perfil do Mestre, que eterniza o local onde sempre gostava de ver as corridas, junto ao setor seis, no burladero à direita da porta dos cavalos;

  • Finalmente, na sua reunião ordinária de 11 de novembro de 2020, a Câmara Municipal deliberou ainda, por unanimidade, nos termos da alínea ss) do n.º 1 do artigo 33.º da Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, atribuir o topónimo “Avenida Mestre David Ribeiro Telles” à artéria circundante à Praça de Toiros de Coruche, conforme entendimento da Comissão de Toponímia, exarado na Ata n.º 19, de 10 de fevereiro de 2020. Mais deliberou, que na placa toponímica deverá constar:

    “Avenida Mestre David Ribeiro Telles – Cavaleiro Tauromáquico”.

 

 

 

 

Atualizado em 23-04-2021